terça-feira, 10 de agosto de 2010

BENJAMIN, BRECHT, LADY GAGA, KUROSAWA, GRAHAM BELL E PIAGET: para muito além da Maisa do SBT

Que fator inusitado poderia juntar toda essa galera num mesmo balaio?

Essas figuras, não necessariamente juntas, mas cada uma no seu tempo e lugar - e a seu modo - constituem-se um tijolo do grande monumento que está sendo erguido. É a arte - e o que passaremos a considerar como tal - em épocas de internet.

Se Walter Benjamin filósofo, sociólogo e ensaísta judeu-alemão, compreendeu a grande revolução que aconteceria com o que ele chama de época da reprodutibilidade técnica, enxergando no cinema um novo paradigma para o lugar da obra de arte, derrubando assim a concepção aurática das obras em si, o que ele não diria em épocas de cultura digital e redes mundiais de comunicação?

Se Bertolt Brecht encantou-se também com o cinema e muito mais com o rádio, provocando no sentido de que o conceito de arte poderia ser muito mais amplo do que o compreendido no momento, defendendo - entre tantas outras coisas maravilhosas - a idéia de que podemos todos fazer arte e ela pode estar dentro da nossa vida cotidiana, e não ser apenas uma categoria isolada, estanque da vida, programada, fora da realidade prosaica (É da mesma época das peças didáticas uma série de tratados seus sobre a revolução promovida pela radiodifusão) o que ele não diria do www???

Se Lady Gaga, pluri-artista-multimídia novaiorquina, fez do youtube uma possibilidade artística para além do acesso a vídeos antigos ou mesmo coisas irrelevantes postadas aos milhões diariamente no portal e nos ensina a usar esta ferramenta como recurso de apreciação estética e constante atualização das novas tendências, como será que ela consome a ferramenta que ela própria alimenta???

Se Akira Kurosawa, diretor japonês que presenteou o ocidente com imagens inesquecíveis e antológicas do universo japonês, promovendo uma verdadeira revolução estética cinematográfica, através de uma nova proposta sobretudo de tempo e ritmo para a apreciação de seus filmes, que influenciaram novos diretores como Hayao Miyazaki, autor de pérolas da animação como A Viagem de Chiriro, O Castelo Animado e o mais recente Ponyo, ao menos desconfiasse do poder de sedução de pequenos japonesinhos???

Se Jean Piaget, epistemólogo (não disse que essa palavra é assustadora???) suíço, pai não só da teoria cognitiva mas de suas próprias filhas-laboratórios, mais do que estudar as etapas do desenvolvimento cognitivo de crianças, se deparasse com suas proezas impensadas publicadas impunemente por pais e mães completamente sem noção que adoram ter seus filhos 'brilhando' na internet (eu, por exemplo)???

Se Graham Bell, cientista escocês, o homem do telefone (mesmo que oficialmente ele já tenha perdido a patente do telefone, nada muda a nossa mania deliciosa de associar seu nome ao invento) tivesse a menor idéia do que faríamos com sua idéia transformadora de comunicabilidade à distância, incluindo além da voz, imagens, movimentos, e - sobretudo - muita arte e fantasia, teria ele criado apenas um simples aparelho funcional???

Imaginemos todas essas figuras numa mesa redonda, discutindo estes vídeos.



PAUSA: É engraçado como crianças orientais parecem exercer um fascínio ainda maior do que qualquer criança já exerce.




A discussão poderia girar em termos pedagógicos, com Piaget discutindo a performance das crianças ou mesmo a imaturidade e desequilíbrio psicológico dos pais, que montam uma cena para que suas crianças façam 'coisas' e sejam todas depois upadas na internet.

Brecht e Benjamin - contemporâneos e conterrâneos - provavelmetne se deliciariam com a possibilidade de divulgação da obra e, sobretudo, com o interminável fórum sobre a questão: esses vídeos são uma obra de arte??? O que é, ao fim e ao cabo (Cajaíba adora falar isso) uma obra de arte??? Lady Gaga ou diria que sim, defendendo a ferramenta ou diria que não garantindo o território para si.

Graham Bell estaria meio deslocado nessa mesa, eu acho. Talvez falando no celular com outra pessoa.

Mas, brincadeiras à parte, se estes pequenos vídeos caseiros, feito sem a pretensão artística compreendida como tal por Luigi Pareyson (esteta universal do ocidente), não são obra de arte, não tem o menor problema. Eles, assim, assistidos inadvertidamente, entre um email e outro, entre uma publicação de mural do facebook e uma inserção de vídeo do orkut, promovem um inevitável estado de graça e a gente se pega, assim, sem quê nem pra quê, rindo e achando a vida uma coisa muito fofa. Eles nos levam para um lugar que é dessa galera toda celebrada aqui e de todos nós, meu e seu, porque fomos todos crianças e somos todos por elas apaixonados.

Exagerei???

Pode ser apenas uma espécie de show circense moderno, com crianças fazendo truques, como macaco amestrado (tal qual Mozar na infância). Pode ser que eu seja mesmo uma mãe muito boba que adora até filho dos outros. Pode ser que seja tudo uma bobagem e você tenha perdido muito tempo lendo um post tão longo.

Eu insisto: alguma coisa tem aí nesse tal de youtube que não canso de dizer que faz dele esse lugar onde a alta produção artística e produção desenfreada de bobagens caseiras parecem ocupar um lugar bem próximo ou parecem, como queria Brecht, aproximar todos nós, pelo menos através da experiência de ver, fazer e refletir (dá-lhe o triângulo de Ana Mae Barbosa). O que se faz, se vê e se reflete, pode ser uma outra conversa. Quem sabe, no fundo, no fundo a gente procure também na obra de arte essa delícia que a criança cotidianamente nos oferece e que na maioria das vezes a gente nem se dá conta, porque tá estudando sobre onde encontrar os tesouros que, no final das contas, estão escondidos nos lugares mais óbvios.
Post dedicado a Elaine Cardim, que desencandeou toda a viagem conceitual a partir do vídeo do garotinho publicado em seu facebook.

3 comentários:

  1. E o que diria Mozart do Ipod? E Gutemberg do Ipad? E Sheakspeare do Twitter? E o que diriamos nós das proximas gerações, em sua marcha irreversivel de contrução de efemérides (quem foi mesmo Justin Bieber?). Como já disse Renato Manfredini, "O futuro não é mais como era antigamente".

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