terça-feira, 31 de agosto de 2010

EU ESTAVA LÁ

Sim, eu fui. Atrasada, corri com tantos outros em direção a um mesmo ponto. E já que reconhecíamos nosso destino comum, andávamos como velhos conhecidos de infância e conversávamos sem cerimônias: "sem, pressa, vai atrasar", "por aí, não, por aqui, porque aí está interditado". Não havia dúvidas. Íamos para o mesmo lugar. Éramos iguais.

Como afluentes de um rio, seguíamos sem pedras, ao mar que era nossa Velha Fonte.

Chegando lá, o carnaval mudo.
Multidão, churrasquinho, polícia, cerveja. O sol ora aparecia cruel demais para um 29 de julho, ora escondia-se por nuvens que vieram assistir também.

Logo, nos demos conta de que estávamos a olhar imóveis para um mesmo ponto por aproximadamente vinte minutos, tempo aproximado de atraso da explosão. Não podíamos desviar o olhar, porque sabíamos que o acontecimento seria breve e um desvio poderia nos fazer perder o momento para o qual nos preparamos tão cuidadosamente. Camisa, boné e bandeira do time, ou nossa chique roupa domingueira. Com sede, nem podíamos comprar água. Só depois da explosão.

Da ansiedade ao cansaço, do cansaço à frustração, da frustração à ansiedade de novo, como se esse espetáculo da espera tivesse sido deliberadamente montado.

Sentia falta de algo e me dei conta de que esperava a segurança da presença de um grande locutor. Alguém (Deus talvez) que anunciasse a contagem regressiva, nos convocando: "Atençã, vai ser agora"! Era uma insegurança de quem espera o meteoro do fim do mundo. Não havia voz, não havia companhia.

De repente, o tal do estampido. E a parte que eu obcecadamente observava, tombou tão rápido, como uma caixa vazia de sua geladeira. A poeira parecia branca e o barulho menos estrondoso do que eu supunha. Os dezessete segundos previstos para mim foram cinco. Cinco segundos suficientes para levar o nó à garganta e uma lágrima seca à maçã do rosto. Deu-se o vazio.

Um sentimento controverso de solidão e engajamento. Uma tristeza coletiva. E todos os orixás ouviram aquele grande e demorado Oooooooooohhhhhhhhh! seguido de palmas, muitas palmas.

Aplausos à saída. Ao vazio que se impôs no espaço daqueles anéis azuis. Olhamos agora e apreciamos a concretude do nada. Nunca o nada foi tão real e físico e pesado. A concretude daquilo que não está. Da memória de quase 60 anos de um titã imponente.

A poeira, assim como a multidão, se dissipou aos poucos. Muitos senhores olhavam para aquele espaço em silêncio, um olhar loooooonge, talvez no espaço, talvez no tempo. Crianças corriam ao seu redor, com suas camisas de time, algodão doce e bolas de soprar.

Eu, com minha camisa tricolor, olhava aquele evento impressionante, sem palavras que traduzissem tanta beleza, tanta intensidade. Fui no mar de gente, na correnteza dos que desolados se perguntavam sobre as esperanças do futuro. Mas, não era hora de futuro. O presente e o passado já nos preencheram por hoje.

29 de agosto de 2010. O dia em que o vazio tomou corpo.

É bolada, torcedor.

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