quinta-feira, 16 de junho de 2011

DE ARTISTA A MECENAS: sempre um fenômeno



Muito se tem criticado Ronaldo Fenômeno  porque é um grande hobby, para alguns, criticá-lo, sobretudo aqueles que têm uma dorzinha quando assistem ao sucesso alheio.

Sei que Ronaldo não é nenhum santo. Sei que a comoção que a Globo tentou criar na sua despedida da seleção não colou e ficou mesmo foi uma senhora canastrice. Uma sugestão do que talvez fosse para ser. Enfim, análise dos espetáculos, por quem está meio que condicionada a ver a vida assim. Isso é bom e ruim...

Mas, o personagem-ator-jogador em si, ah, desse todo mundo sabe que eu sou fã mesmo. E olha que eu tento achar os defeitos dele maiores que suas qualidades, mas eu não consigo.

Eu achei muito generoso, corajoso e provocador ele ter a coragem de fazer uma despedida daquele jeito. Gordo até não poder mais. Pesado, sem reflexo. Quem mais poderia se dar ao luxo de terminar a carreira como atleta mostrando todas as suas antigas qualidades transformadas em defeitos? Quem se permitiria protagonizar um espetáculo revelando a distância entre o que outrora era virtuose e agora vira piada?

Só os grandes homens (e mulheres) são capazes de rir de si mesmo. De reconhecer seus 'agoras' e viver com eles, e incorporá-los à sua nova condição.

E Ronaldo, gênio que é, sabe que pode rir e fazer rir os outros de sua inabilidade no campo, porque sabe que dela não precisa mais, a não ser como memória, como tijolos firmes e rijos de uma sólida história.

Pode rir de si mesmo, o Fenômeno, porque até mesmo este gesto o aproxima do homem comum, faz dele o Ronaldo gente, simpático, carismático e amigo próximo.

Agora, ele vai dedicar-se àquilo que tanto fez jogando pesado no campo: ganhar dinheiro. Assistindo ao jogo de despedida, uma amiga falou:

"Gente, esse homem ganhou muito dinheiro."

Eu disse:

"Que nada. Ele vai começar a ganhar dinheiro agora."

George Matos, leitor e amigo de infância, mandou pra mim por email um texto de um blog falando desse Ronaldo empresário TRISTE FUTEBOL DA ERA RONALDO e de alguma forma, criticando sua atuação nessa área, fazendo uma ligação entre essa nova era Ronaldo, com o momento do futebol em que o dinheiro é quem manda. Eu entrei na briga com ele e respondi:

"O mercantilismo do futebol não é uma invenção de Ronaldo, e este não é o primeiro culpado por o futebol estar se tornando a merda que está (como o teatro fez no século XIX e XX). Fica parecendo que é culpa de Ronaldo. Eu acho uma merda também, futebol ser indústria, e o público ficar cada vez mais distante. Eu gostaria muito que o futebol conseguisse vencer este modelo, o que não foi possível com o teatro. Agora, volto a repetir, Ronaldo não é o inventor deste modelo. Talvez o modelo inventado por Ronaldo é o de que a grana não vai só para a mão do cartola, mas do jogador empresário. Ou melhor, de que o lugar do jogador não é mais apenas o de suar a camisa, se desgraçar de trabalhar fisicamente e ficar com 'cachê'. Eu acho que, pelo menos, Ronaldo inaugura o modelo do jogador que pensa - e pensa muito - na profissão como investimento, sobretudo para depois da aposentadoria. Não estou dizendo que este modelo é bom, só não acho pior do que o dinheirão ir para a mão dos cartolas."


Pois eu sei que meus argumentos são meio (ou muito) ingênuos para quem é expert em futebol (ora, somos todos experts em futebol... até doutorandos!) É que eu prefiro falar assim, com meus argumentos toscos, mas é o que eu penso mesmo, sabe, essa minha admiração por Ronaldo que é meio de todo brasileiro e eu acho que os comentaristas e colunistas e especialistas e tudo-istas tem uma tendência a escrever sobre as coisas com as quais não concorda e fica um reclama-reclama sem fim. E no fundo (eu escrevo blog de futebol e de teatro e sei bem que) quem escreve - sobretudo se dizendo especialistas - escreve porque de algum modo, em algum lugar do passado desejou fazer do universo sobre o qual escreve seu próprio mundo, sua própria história e, por uma razão ou por outra, não conseguiu e, tranquilamente (ou não) continua no ramo, só que comentando, criticando, criando hipóteses, sugerindo como seria se fosse ele...

Eu, por mim, gosto muito de falar das coisas que gosto e assumir algumas das minhas dúvidas e inabilidades (aquelas que consigo enxergar). E se é pra falar do que eu gosto, pode ter certeza, que vai rolar o nome do Fenômeno no meio.

Porque, como já falei inúmeras vezes, admiro sua simpatia, seu carisma, seu talento, sua competência para o jogo e para o mercado. A forma como se faz respeitar por todos, sobretudo por essa mídia nojenta que respeita pouquíssima gente. Admiro sua história, sua trajetória, a forma como conduziu e como continua conduzindo sua carreira. Considero-o um marco na nossa geração e um modelo de insistência e perseverança.

Se sai do palco do futebol, como artista genial que foi, entra para seus bastidores, e quem sabe possa introduzir neste mundo mercantilista cinza e estéril, alguma vida, alguma alegria e algum valor humano. Respeito, inteligência e humanidade para isso, eu tenho certeza que ele tem. A REVISTA PLACAR deste mês dedica-se a reconhecer o talento do menino dentro e fora do Campo. Apesar de ser um texto chato, vale a pena conferir.


É bolada, artista-empreendedor!

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